A Professora Doutora Andreia Costa, coordenadora do Centro de Investigação, Inovação e Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa (CIDNUR), apresenta, em entrevista, a conferência internacional Nursing Trends. Este ano, o tema central será o autocuidado, destacado “pela sua importância para a ciência da Enfermagem, para as pessoas e para a sustentabilidade dos sistemas de saúde”. Marque na sua agenda: 8 de novembro, no Polo Artur Ravara da ESEL.
Qual a importância da temática do autocuidado no contexto atual da saúde?
O autocuidado é uma abordagem fundamental para enfrentar os desafios globais da saúde. É através do autocuidado que as pessoas, famílias e comunidades podem assumir um papel ativo no seu plano de saúde, na gestão da sua saúde, como a prevenção de doenças e o acompanhamento de condições crónicas, muito prevalentes nos dias de hoje. Os ganhos em autonomia, bem-estar e saúde das pessoas e comunidades associados ao autocuidado têm também um importante potencial de redução da pressão sobre os sistemas de saúde, que, como sabemos, têm recursos limitados.
Como é que a investigação em enfermagem pode contribuir para a promoção e disseminação de práticas de autocuidado?
A capacitação para o autocuidado faz parte das atribuições e competências dos/as enfermeiros/as. Os/as enfermeiros/as são frequentemente os membros das equipas de cuidados de saúde que mais interagem com os cidadãos, famílias e comunidades. Assim, a investigação em enfermagem tem um papel de destaque na criação, adaptação, teste, avaliação e implementação de intervenções mais eficazes no âmbito do autocuidado e da sua promoção.
Que projetos do CIDNUR serão apresentados na conferência?
O Painel 1 do Nursing Trends 2024 é dedicado à apresentação de projetos inovadores do CIDNUR que contemplam ou se dedicam diretamente ao tema do autocuidado no âmbito da formação ou da prática profissional. Entre os projetos que serão apresentados neste painel, estão: NursesMHSurvey2024, que aborda a saúde mental dos enfermeiros portugueses, refletindo a necessidade de autocuidado entre os próprios profissionais de saúde; WEChange, financiado pelo Programa Erasmus+, que visa promover a saúde mental de adolescentes, alunos de escolas secundárias de diversos países, através da educação por pares e intercâmbio virtual; ICEX, também financiado pelo Programa Erasmus+, que visa a criação e teste de pacotes educativos, culturalmente sensíveis, sobre saúde sexual para migrantes; e MELODIC, financiado pelo Programa Horizonte Europa, que visa promover a saúde mental e o bem-estar dos jovens adultos com cancro e dos seus familiares/cuidadores.
Estes projetos sublinham a relevância do autocuidado em vários contextos, desde a saúde mental até à educação sexual, desde a educação escolar até à Inteligência Artificial.
Quais são os principais objetivos da conferência?
As conferências Nursing Trends, organizadas de dois em dois anos pelo CIDNUR, têm como objetivo aprofundar o contributo fundamental que a investigação e as parcerias têm para as tendências atuais, nacionais e internacionais, em enfermagem e em saúde. Queremos promover a partilha de conhecimento científico na área da enfermagem, além da cultura de investigação em enfermagem.
Nesta edição de 2024, o nosso foco é o autocuidado, pela sua importância para a ciência da Enfermagem, para as pessoas e para a sustentabilidade dos sistemas de saúde. Alinhando-se com a visão da Organização Mundial de Saúde, a conferência tem igualmente como objetivo integrar este conceito nas políticas públicas, como será discutido no Painel 2. A conferência visa, ainda, capacitar os enfermeiros e outros profissionais de saúde a adotar práticas de promoção do autocuidado que melhorem tanto a qualidade de prestação de cuidados às pessoas e comunidades quanto a qualidade de vida dos próprios profissionais.
A conferência abre com o tema: saúde mental e bem-estar dos profissionais de enfermagem. Que destacaria sobre esse momento?
Esta é, sem dúvida, uma temática muito relevante. Ganhou um destaque especial com a pandemia COVID-19, que tornou mais visível a importância do papel dos enfermeiros nas equipas de saúde e expôs as fragilidades dos sistemas de saúde, que impactam diretamente a saúde dos seus profissionais. A Doutora Adelaida Zabalegui é enfermeira e investigadora no Hospital Clínic Barcelona e tem contribuído muito no debate sobre este tema. A necessidade de intervenções focadas na promoção da saúde dos profissionais de saúde é uma preocupação permanente da Organização Mundial de Saúde. A abertura da conferência com um tema tão importante para a enfermagem atribui a possibilidade de discussão com uma investigadora que o conhece tão profundamente e que acredita no potencial do conhecimento e da prática da Enfermagem para influenciar as políticas. É um momento de grande prestígio para a ESEL, para o CIDNUR e para os participantes do Nursing Trends.
Que mensagem gostaria de deixar aos participantes da conferência sobre a importância do autocuidado e do papel dos enfermeiros na promoção deste conceito?
A mensagem central é a importância do autocuidado, não apenas para a promoção da saúde das pessoas, mas também para a saúde dos profissionais de saúde e dos sistemas de saúde. A conferência deste ano aborda tanto o autocuidado individual como as políticas públicas que o suportam, destacando o papel dos profissionais de saúde/enfermeiros como facilitadores deste processo. Ao capacitar as pessoas e comunidades para o autocuidado e ao garantir o seu próprio bem-estar, os profissionais de saúde/enfermeiros têm o potencial de liderar esta transformação nos cuidados de saúde, tornando o cuidado mais acessível, humano e sustentável.
Quem não pode perder a oportunidade de participar?
Esta conferência será interessante para todos os profissionais de saúde, enfermeiros, gestores de saúde, investigadores e estudantes que se interessem pela investigação e inovação nos cuidados e políticas de saúde, especialmente de enfermagem.
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